A cada 3 pessoas 1 é obesa em todo o mundo. A obesidade no Brasil cresceu em mais de 30%, incluindo crianças e adolescentes, e traz consigo a possibilidade de uma série de doenças graves e um rombo na economia. Mais do que isso, deflagra uma sociedade doente, disposta a engolir, literalmente, suas dores.
Contudo, na contramão de dietas conscientes, que prezam pela alimentação equilibrada e estilo de vida saudável, o aumento do peso corporal tem crescido assustadoramente. O número de pessoas obesas ou com sobrepeso cresceu 70% em três décadas e atinge mais de 2 bilhões de habitantes no mundo todo, ou seja, um terço da população.Ademais, a obesidade no Brasil também traz números alarmantes e nos coloca entre os cinco países com maior índice de obesidade do mundo.
Assim, nos Estados Unidos, país líder do ranking, mais de 36% da população é obesa, segundo instituto da Universidade de Washington, EUA. Todavia, Por aqui, de acordo com a pesquisa feita pela Vigitel (Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico), a cada cinco brasileiros, um está obeso e mais da metade da população se encontra acima do peso.
Assim, a fome e a desnutrição, que até bem pouco tempo eram questões sérias em nosso país, deram espaço para uma nova questão: a obesidade no Brasil. Dessa forma, curiosamente o aumento de peso vem se agravando na medida em que aumenta o poder de compra do brasileiro. Com isso, a obesidade no Brasil cresce nas pessoas jovens, que possuem rotinas agitadas de trabalho e acabam optando, muitas vezes, por uma alimentação não saudável. Como resultado O índice de obesidade no Brasil cresceu 30,3% entre os indivíduos com faixa etária entre 18 e 24 anos; e 50,3% para a dos 25 a 44 anos. Entretanto, é na faixa mais pobre da população que este número mais cresce.
Índice
- O que é obesidade
- Quais as causas da obesidade no Brasil
- Por que a obesidade é um problema
- Como a obesidade no Brasil impacta a economia
- A obesidade infantil no Brasil
- Como tratar a obesidade
- Os 9 países com maior taxa de obesidade
- Por que no Japão a obesidade não é um problema
- Boas notícias sobre a obesidade no Brasil
O que é obesidade
A obesidade é uma doença e se caracteriza pelo acúmulo excessivo de gordura no corpo. Mais do que isso, é uma síndrome multifatorial que envolve fatores genéticos, ambientais, socioculturais, comportamentais e emocionais. Representa fator de risco para várias outras doenças, como hipertensão arterial, câncer, doenças cardiovasculares e cerebrovasculares, diabetes, apneia do sono e osteoartrite.
O diagnóstico é feito por meio do cálculo de índice de massa corporal (IMC), que divide o peso do indivíduo (em quilogramas) pelo quadrado de sua altura (em metros). Um IMC menor a 18,5 indica que a pessoa está com peso abaixo do normal; entre 18,5 e 24,9 é considerado peso normal; já entre 25 e 29,9 representa pessoas com peso acima do normal; A obesidade é apontada quando o IMC está entre 30 e 30,9; e quando é maior do que 40 considera-se a pessoa portadora de obesidade mórbida.
Quais as causas da obesidade no Brasil
Além da predisposição genética, a obesidade pode ser decorrente de alterações endócrinas, como o hipertireoidismo. De qualquer forma, os hábitos e estilo de vida, contribuem muito no acúmulo de peso. Assim, dietas ricas em gordura e açúcar, além do sedentarismo, são outras das causas da obesidade no Brasil e no mundo. Ainda, há uma série de fatores psicológicos que precisam ser observados quando se trata do tema. Entre eles, ansiedade, estresse, depressão e um perfil cognitivo disfuncional relacionado ao padrão alimentar e a autoestima.
Para o secretário de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, Wanderson Oliveira, os maus hábitos dos brasileiros, que optam por uma alimentação não saudável, tem grande impacto nesse cenário. “Nós temos um aumento maior da obesidade em decorrência do consumo muito elevado de alimentos ultraprocessados, de alto teor de gordura e açúcar. Então, o incentivo ao consumo de hortaliça entre as crianças e os adultos é fundamental. Visto que, quanto mais próximo de casa eu compro o alimento, mais saudável ele é, e mais fresco eu vou consumi-lo.”
Apesar desse realmente ser um problema, apontamos aqui algumas outras causas mais abrangentes para o caso:
Causa 1: Como a genética dos nossos ancestrais está ligada à obesidade
Não só a genética, mas aspectos culturais podem estar ligados as altas taxas de obesidade no Brasil e no mundo. Quando pensamos a longo prazo, tomamos consciência de que nossos antepassados não tinham acesso fácil à comida. Dessa forma, sem as facilidades modernas, acabaram transmitindo para nós a genética de retenção de calorias. Isso quer dizer que sobreviviam – e por consequência procriavam – os mais “gordinhos’, com metabolismo mais adequado ao armazenamento de energia.
Para o médico Cláudio Mottin essa é uma teoria válida. “Quando os tempos eram de escassez de alimentos, quem tinha mais condições de defesa corporal eram as pessoas mais gordinhas. No momento em que temos alimentos à disposição sem esforço, a genética passou a jogar contra”.
No que se refere as nossas crenças e cultura, nem precisamos voltar a tempos tão remotos. Basta lembrar da sua infância quando os parentes mais velhos avaliavam sua saúde de acordo com o seu peso. Quem nunca teve uma avó que associou doença a magreza que coma a primeira maçã.
Causa 2: Dietas pobres contribuem para obesidade no Brasil
Ainda no que tange nossa cultura, e nesse caso, nossa educação alimentar, encontramos um cenário bastante preocupante. Tendo em vista que uma alimentação equilibrada inclui certa diversidade de alimentos e, por consequência, nutrientes, o arroz e feijão nosso de cada dia não parece estar dando conta do recado.
A situação é tal que até o consumo do feijão caiu. Em Curitiba, por exemplo, mesmo com o preço médio mais baixo que em anos anteriores, a quantidade de pessoas que consomem feijão 5 vezes ou mais por semana, caiu de 64,3%, em 2013, para 47,9%.
Crédito: Christopher Williams
E a má alimentação não é necessariamente resultado de baixa renda. Acontece que temos à disposição uma série de “coisas para comer que não necessariamente são comestíveis. Entre salgadinhos, refrigerantes e um outro tanto de ofertas nas gôndolas do mercado, vamos no entupindo de venenos extremamente nocivos à saúde física, mental e emocional.
Causa 3: O sono atrapalhado também joga contra
Junta tudo o que falamos acima e leve para sua cama na hora de dormir. O resultado é catastrófico. Noites mal dormidas, corpo cansado e sedento por alimentos mais energéticos. Parece bobagem, mas a falta de rotina com o sono e as tensões do corpo produzem efeitos intensos em nossa rotina e metabolismo.
Para a endocrinologista Marcela Ferrão, essa conexão está clara. “À noite, a serotonina, que é o hormônio do humor, se converte em melatonina, responsável pelo sono reparador. Nesse estágio do sono, as células conseguem mobilizar gorduras de forma adequada”. Porém, com o corpo cansado, a mente cheia de preocupações e o celular ligado o tempo todo, fica difícil apenas descansar.
Causa 4: A tecnologia joga a favor do aumento da obesidade no Brasil
A falta de atividade física é, sem dúvidas, outro ponto a ser comentado. Ambientes sedentários de escritórios e jornadas cada vez mais longas e estafantes, parecem roubar a energia vital dos brasileiros. E se antes tínhamos que nos movimentar até nossos locais de estudo e trabalho, agora meios de transporte fazem o percurso por nós, deixando nossos corpos inertes por ainda mais tempo.
Como se não bastasse, o crescente uso de telinhas luminosas como forma de entretenimento, tiram o esporte e o movimento corporal da lista de prazeres.
Causa 5: Os aspectos psicológicos do autoboicote
De acordo com o artigo “Comportamento de Restrição Alimentar e Obesidade”, de Bernardi, Cichelero e Vitolo, o comportamento alimentar é, em si, muito complexo pelos aspectos psicológicos envolvidos. Estes podem se expressar por meio de humor depressivo, ansiedade, sentimento de culpa e, também, por mecanismos fisiológicos, como resistir ao jejum ao fazer dietas.
Segundo os autores, a maioria dos obesos comem para compensar ou resolver alguma dificuldade que estejam passando. Isto é, fazem a ingestão de maior quantidade de alimentos em situações de estresse. Dessa forma, a comida perde seu caráter nutricional para configurar como recurso compensatório, mascarando situações de tristeza, depressão, ansiedade e raiva.
A partir dessa perspectiva, as condições emocionais passam a ditar um padrão que se retroalimenta, tornando a pessoa refém da própria situação. Em alguns casos, age antecipadamente, a partir de pensamentos críticos recorrentes como “sou um fracasso por não conseguir emagrecer”; Em outros, como justificativa: “mereço comer porque o dia foi muito difícil; E ainda, como crenças culturais: “preciso comer tudo que está no prato”.
Por que a obesidade é um problema
Os casos de peso excessivo, incluindo a obesidade e a obesidade mórbida, trazem sérias complicações de saúde, entre elas:
- Doenças cardiovasculares, especialmente infarto, que são a principal causa de morte no mundo há pelo menos 15 anos;
- Diabetes, a sexta principal causa de morte no mundo;
- Problemas musculares-ósseos, especialmente osteoartrite, grave doença degenerativa;
- Algumas formas de câncer, como o do endométrio, de mama, de ovário, de próstata, entre outros.
Como a obesidade no Brasil impacta a economia
Segundo a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) a obesidade representa um grande problema para a economia de qualquer país. Isso por conta do impacto econômico nos gastos com saúde para tratar doenças crônicas decorrentes do excesso de peso, como diabetes e problemas cardiovasculares.
De 2008 a 2018, o Ministério da Saúde brasileiro ampliou em mais de 1.000% o acesso a medicamentos para diabetes no Brasil. Em 2018, foram distribuídos 3,2 bilhões de medicamentos para o tratamento da diabetes no país. Em 2008, foram “apenas” 274 milhões. Atualmente o SUS oferece gratuitament o tratamento medicamentoso para a doença. Em 2018, foram investidos R$ 726 milhões na aquisição dos medicamentos.
Como se não bastassem os investimentos em medicamentos, as doenças crônicas trazem impactos diretos ao mercado de trabalho, já que reduzem a possibilidade dessas pessoas continuarem ativas.
Nos cálculos da OCDE, a obesidade trará um impacto negativo bastante significativo para o Brasil, com redução de 5,5% no PIB. Em países desenvolvidos esse percentual deverá chegar a 3,3%.
A obesidade infantil no Brasil
Ainda mais alarmante que a situação de adultos com sobrepeso é a realidade das nossas crianças. Quase 11% delas são consideradas obesas em nosso país e as pré-obesas chegam a 17,2%. O que se vê é pouca comida fresca no prato e um consumo indiscriminado de alimentos calóricos, industrializados e com baixíssimo valor nutricional.
O estudo da OCDE afirma que crianças com peso saudável costumam ter melhor desempenho escolar. Além disso, os pequenos com problemas de peso tendem a sofrer bullying na escola, o que, certamente, trará consequências emocionais e possivelmente, tenha impacto em seus resultados escolares.
50 dos 52 países analisados na pesquisa possuem programas de saúde contra obesidade e 45 deles contam com programas específicos contra obesidade infantil. Porém, com as taxas de obesidade crescendo a todo vapor, seria interessante investir em “pacotes de prevenção”.
Como tratar a obesidade
Tratar a obesidade não é assim tão simples como seria cortar a alimentação não saudável e adotar uma alimentação equilibrada e prática de exercícios. Além da mudança de hábitos alimentares, envolve suporte psicológico, auxílio da família e, em muitos casos, uso de medicamentos ou até mesmo, procedimento cirúrgico.
A prevenção se dá através do estímulo, desde cedo, para que a criança aprenda a ter uma dieta balanceada e sem excessos. A prática de exercícios também deve ser incentivada.
Há ainda, uma série de cuidados no que tange o tema:
- Com o uso contínuo, o medicamento para obesidade pode perder o efeito. Caso isso aconteça, um médico deve ser consultado. Não se deve aumentar a dose por conta própria;
- Há diversas propagandas irregulares de medicamentos para emagrecer. Não há emagrecimento fácil e rápido;
- Não compre medicamentos para obesidade pela internet ou em academias de ginástica, pois muitos não são autorizados pelo Ministério da Saúde e podem fazer mal a quem utiliza;
- Clínicas e consultórios não podem vender medicamentos para obesidade. O paciente tem a liberdade de escolher a farmácia de sua confiança para comprar ou manipular o medicamento prescrito;
- Fórmulas de emagrecimento com várias substâncias misturadas são proibidas pelo Ministério da Saúde e já provocaram mortes.
Os 9 países com maior taxa de obesidade
Como já dissemos, não é só no Brasil que a obesidade é um problema. Segundo o Global Burden of Disease Study, 50% das pessoas obesas no mundo estão concentradas em apenas 9 países. Os Estados Unidos lideram a lista, apesar de terem uma população três vezes menor do que a China. Confira os 9 países com mais pessoas obesas do mundo (em números absolutos):
- EUA: 86,9 milhões (31,7% homens e 33,9% mulheres do total de habitantes);
- China: 62 milhões (3,8% homens e 5% mulheres);
- Rússia: 29,2 milhões (15,3% homens e 28,5% mulheres);
- Brasil: 26,2 milhões (11,7% homens e 20,6% mulheres);
- México: 24,9 milhões (20,6% homens e 32,7% mulheres);
- Egito: 21,8 milhões (26,4% homens e 48,4% mulheres);
- Alemanha: 17,1 milhões (21,9% homens e 22,5% mulheres);
- Paquistão: 16,7 milhões (14,4% homens e 14,3% mulheres);
- Indonésia: 15,1 milhões (5,4% homens e 8,3%)
Por que no Japão a obesidade não é um problema
Enquanto as taxas de obesidade no Brasil e no mundo seguem em crescente disparada, no Japão a realidade é outra. Em 2015, cerca de 3% da população foi apontada como obesa, algo parecido com a situação da Etiópia e de Ruanda, dois dos países mais pobres do mundo que sofrem graves problemas de falta de comida.
Poderíamos, então, levar em conta três aspectos para o caso japonês: alimentação tradicional saudável; bem como a prática diária de exercícios e políticas públicas efetivas.
Só para ilustrar, o sistema culinário japonês, chamado “washoku”, foi considerado patrimônio imaterial da humanidade pela Organização das Nações Unidas em 2013. Na prática, ele constitui rituais e conhecimentos na forma de lidar com a comida, que resulta em dietas com ingredientes frescos e balanceados.
Porém, com a crescente globalização e chegada massiva de cadeias de fast-food ao país, o governo precisou agir, promovendo o washoku e implementando medidas efetivas de combate à obesidade. Entre elas está a controversa Lei Metabo, que estabelece uma medida de cintura máxima para adultos entre 40 e 75 anos – para homens 94cm e para mulheres 80cm. As medições são feitas uma vez ao ano e, caso esteja superior ao limite indicado, a pessoa é imediatamente encaminhada para um nutricionista. Portanto, se não comparecer aos encontros, as empresas em que trabalham e a autoridades municipais de onde vivem são obrigadas a pagar uma multa ao governo federal.
Além da Lei Metabo, há ainda, o incentivo para que crianças caminhem até suas escolas e também a Lei Shuku Iku, que determina cardápios saudáveis nas escolas e contratação de nutricionistas profissionais para dar aulas específicas sobre alimentação.
Boas notícias sobre a obesidade no Brasil
Por outro lado, apesar do cenário alarmante, há algumas benfeitorias no governo em relação à obesidade no Brasil. Nesse sentido,, Em novembro de 2018, o Ministério da Saúde fechou acordo estabelecendo metas de redução do açúcar em produtos industrializados, como, bebidas adoçadas, biscoitos, bolos e misturas para bolos, produtos lácteos e achocolatados. Portanto, o acordo deve resultar na redução dos teores em mais de 50% dos produtos destas categorias. De acordo com estimativas das indústrias, serão reduzidas 144 mil toneladas de açúcar nos produtos até 2022.
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Com infos de: BBC, Saúde.Gov.Br, Exame, Estadão, TV Brasil