A economia criativa vem dando espaço para modelos colaborativos e a cultura de possuir passa a dar vez a outra, onde é mais importante compartilhar. São tempos para revermos nossas atitudes, do lixo ao luxo, e procurarmos novos caminhos para interagir com o planeta.
Talvez a melhor forma de iniciar 2020 seja revendo nossos hábitos de consumo. Por que? Porque isso representa boa parte da responsabilidade que temos em relação ao esgotamento do planeta – uma herança que carregamos desde a Revolução Industrial e do modelo fordista de produção em série. Mas talvez seja ainda bem mais antigo, quando começamos a acreditar que possuir coisas refletia quem somos de fato. Portanto, quando status social passou a ser sinônimo de poder e nos perdemos de nós mesmos, da nossa essência.
Do lixo ao luxo, está na hora de assumirmos nossa parte na reconstrução desse planeta e resgatarmos o valor do que realmente importa.
Menos é mais no luxo ao lixo
Acima de tudo, a primeira mudança de atitude pode ser mais simples do que se imagina. Ao invés de se perguntar porque quer algo, experimente se questionar “para que” aquilo serve, o que preenche em sua vida, ou ainda, como e com o que foi produzido. Além disso, repensar a lógica do consumo e sua cadeia produtiva, buscando consciência e equilíbrio na hora de comprar é o que propõe o lowsumerism (união das palavras em inglês “low“- baixo com “consumerism” – consumismo), um movimento que tem ganhado adeptos no mundo todo. Portanto, mais do que uma tendência, é uma emergência. Necessidade primeira se queremos continuar a salvar recursos, cuidar e habitar esse planeta.
A Economia Criativa e os Novos Modelos Colaborativos Buscam Modos Mais Sustentáveis de Viver e Compartilhar Espaço Serviços e Recurso
A vez do colaborativo
Nesse sentido, as novas gerações têm feito uso de modelos colaborativos para movimentar a economia, e os tempos de posse começam a dar lugar a era do acesso. O que importa é desfrutar do que precisa de fato de forma mais inteligente.
Coworkings, serviços de mobilidade como Uber, bicicletas, carros e patinetes alugados por hora, streamings de música e conteúdo, como Spotify e Netflix e até mesmo aluguel de objetos de luxo, permitem o uso coletivo do que se precisa sem a necessidade de adquirir individualmente algo. Maneiras de fomentar a economia criativa, diminuindo a produção em série de bens descartáveis, abrindo espaço para o colaborativo em contraposição ao individual.
Para onde vai o que sobrou
Experimente observar o todo antes de chamar de seu ou se desfazer do que já foi: do lixo ao luxo. Desde embalagens, sobras de produção, até mesmo o que não queremos mais e podemos encontrar novos usos. Que tal trocar seu canudo plástico por um de bambu ou aço inox carregando-o sempre na bolsa? Ou investir em roupas feitas a partir do upcycling, que aproveitam materiais antigos ou sobras que virariam lixo? Vender ou doar aquilo que não quer mais e pode encontrar nova vida em outros lares? Ou até não levar para casa porque seu objeto de desejo custou o sofrimento de pessoas ou a degradação da natureza?
Movimento Lixo Zero
O movimento lixo zero tem feito pessoas no mundo todo criarem alternativas diárias para driblar o consumo de qualquer item que possua embalagem, por exemplo. Ou ainda, encontrado formas de transformar o que sobra em novos itens, como o caso dos tijolos de ecobrick ou telhas sustentáveis, feitos de restos de materiais descartáveis. Literalmente, o lixo virando casa.
Luxo no lixo
Da mesma forma, na contramão do amor, empresas de alto luxo, tem escolhido há tempos, transformar seus excedentes em grandes e bizarras fogueiras – transformando bens de consumo intactos em lixo. Tudo em nome do lucro e da preservação da marca. Em 2018, a marca inglesa Burberry, revelou em seu relatório anual que havia queimado cerca de US$ 37 milhões em roupas e cosméticos. A ação grotesca é comum no mercado de luxo e acontece para evitar que a produção “encalhada” fosse roubada ou revendida com valores menores, prejudicando assim a sua imagem, já que pessoas não tão ricas passariam a desfilar por aí com sua logomarca.
Detox My Fashion
Kirsten Brodde, que lidera a campanha Detox My Fashion na instituição ambiental Greenpeace, disse que a Burberry “não mostra respeito por seus próprios produtos, pelo trabalho duro empregado e ainda, pelos recursos naturais que são usados para produzi-los”.
O caso é tão assustador que nos parece dispensar qualquer outro comentário. Mas se quiser se aprofundar no quão surreal tem sido a cadeia de produção de moda, pode assistir ao documentário “The True Cost”, disponível no Netflix com legenda em português. Uma ótima pedida para entender toda exploração humana e planetária que existe para uma simples camiseta chegar no seu armário. E não só as muito caras. Pelo contrário, aquelas super baratinhas que “não fazem mal a ninguém”.
O novo luxo
Enfim está mais do que na hora de percebermos que o conceito de luxo vai muito além do que qualquer coisa que o ser humano possa fabricar. Luxo é a honra de podermos habitar esse planeta, ao mesmo tempo que conseguimos criar uma realidade justa, equilibrada e abundante para todos, em resumo é ter qualidade de vida e encontrar maneiras de viver com alegria.
Como bem observou o sociólogo português Boaventura de Souza Santos “o novo luxo é experienciar, vivenciar, aprender. O novo luxo é conhecimento. Uma visão abrangente sobre o mundo em que vivemos e nossa passagem por esse lindo planeta azul. Em conclusão, o novo luxo faz de você um novo ser humano, sua busca é evoluir e ser melhor. Sua busca é ser mais feliz. O novo luxo não é ter: é ser”.
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Com infos de: The New York Times, IstoÉ, BBC.com, EscolaSaoPaulo.org.